segunda-feira, 17 de setembro de 2007

Pequim 2008

Atenas-2004 teve uma pira olímpica que se abaixava para colher o fogo das mãos de um atleta. Sydney-2000 teve um estádio que captava água da chuva. Barcelona-2002, um parque aquático que transformava a própria cidade em cenário. E Pequim-2008?A capital do país mais populoso do mundo, com orçamento de primeiro mundo e problemas de terceiro, promete um dos projetos mais espetaculares já realizados em toda a história olímpica. Um parque sobre uma reserva ambiental, com lago abastecido por água de reuso, e duas obras monumentais: o Centro Nacional de Natação e o Estádio Nacional.Uma brincadeira que vai custar cerca de US$ 3,2 bilhões apenas com as instalações esportivas. A cidade ainda deve receber mais US$ 24,2 bilhões em obras de infra-estrutura -linhas de trem, metrô, estradas, urbanização etc.A conta ainda não acabou: mais US$ 2 bilhões em custos operacionais e US$ 7 bilhões apenas para tocar o megaprojeto ambiental.Como comparação, São Paulo, que concorreu com o Rio pela já frustrada candidatura brasileira aos Jogos de 2012, foi criticada por imaginar torrar US$ 2 bilhões em equipamentos esportivos e mais US$ 11 bilhões em infra-estrutura.A modernização a toque de caixa vem derrubando quarteirões e até bairros inteiros da cidade. Segundo um analista americano, Pequim está sofrendo uma transformação gigantesca, semelhante à realizada em Paris no século 19.Uma mudança tão grande que já há quem se preocupe com a própria identidade da cidade -a devastação seria superior a perpetrada nas décadas de 50 e 60, na primeira fase do período maoísta.O principal problema, no entanto, é o ar. Uma das cidades mais poluídas do mundo, com uso extensivo de carvão nas residências, Pequim precisa trocar sua matriz energética até 2008.Seus 13 milhões de habitantes já sentem essa nova revolução. Indústrias estão sendo fechadas, ônibus adotam o gás natural, e os carros, cada vez mais numerosos, estão perto de sofrer restrições. Uma revolução bem diferente, bancada pelo capital privado e justificada pelo ideal olímpico.
Por José Henrique Mariante
Agência Folha
Em São Paulo


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